manifesto contra a consignação

para quem não sabe, consignação é quando um artista, artesão ou uma marca "empresta" seus produtos para uma loja vender, e funciona mais ou menos assim: a pessoa agenda uma reunião com o gerente de compras da loja, leva suas criações e apresenta para ele, mas aí o gerente explica que não vai poder comprar aquela criação para revender na sua loja [a lista de "justificativas" é infinita... e vai desde "infelizmente já realizamos os pedidos da coleção de inverno e não temos mais budget para fazer novos pedidos agora, se você tivesse aparecido uma semana antes com certeza teríamos feito um pedido grande, pois o produto é a cara dos nossos clientes!" até o descarado "suas criações são lindas e ficariam perfeitas na nossa loja, mas infelizmente estamos sem capital de giro..."].

independente de qual seja a explicação, ela quase sempre vem seguida de um "ah, mas se você quiser pode deixar algumas peças aqui sem compromisso para a gente vender, pois tem tudo a ver com a nossa loja!". essa frase ingênua é um convite para a pessoa deixar o produto em consignação na loja, isso significa que ela irá deixar as peças na loja por um determinado tempo e, ao final, se as peças forem vendidas o lojista paga o valor de atacado referente às peças [tecnicamente esse lojista da consignação vai pagar por peça o mesmo valor de um lojista que comprou as peças de fato], se nenhuma peça for vendida o lojista apenas as devolve ao final do prazo combinado.

parece lindo e promissor, não é? mas dá tanta dor de cabeça que dificilmente vale à pena. na listra de pros podemos colocar que essa é uma forma interessante de tentar emplacar seus produtos em uma loja mais bacana, engordar a famosa lista de olha-em-quanto-lugar-meus-produtos-são-vendidos e testar criações novas. pois agora senta na poltrona que lá vem a lista de contras...

1) como o lojista não pagou pela mercadoria em consignação, vai tentar vender as mercadorias que comprou, para não ficarem encalhadas na loja e ele não levar prejuízo. o que está consignado, afinal de contas, se não for vendido não acarretará em prejuízo nenhum.
2) muito raramente as peças deixadas em consignação são devolvidas no mesmo estados de conservação que forem entregues (lindas, engomadas, sem manchas...).
3) acho uma puta sacanagem o lojista que não comprou as peças (porque elas foram "emprestadas" em consignação, lembra?) e não vai correr o risco do negócio junto com você ter a mesma margem de lucro de um lojista que fez um pedido no atacado.

e recentemente tive uma experiência ainda mais absurda! ao entrar em uma lojinha em pinheiros a dona ficou encantada com o arquinho de flor que eu estava usando e perguntou se eu não poderia deixar algumas peças com ela, em consignação. ela, obviamente, fez uma lista enoooorme de motivos para eu "emprestar" algumas peças da frappé. como ela me pareceu bem honesta e gentil, topei e em dezembro deixei algumas peças acompanhadas de suas respectivas embalagens [todas super fofas, com cartão de visita, lacinho e botton frappé].

no final de janeiro fui retirar as peças que não foram vendidas e, para minha surpresa, a dona da loja não só me devolveu as peças em péssimo estado [algumas tive que jogar fora, por que estavam tão deterioradas que eu não teria coragem de vender!] como "esqueceu" de me devolver as embalagens. após ser lembrada da quantidade, cores e tamanhos das embalagens ela confessou ter usado para produtos de outra marca [e o cartão de visita e bottons frappé foram juntos, olha que absurdo!!!]. resultado? até hoje estou tentando fazer a dona da loja me pagar o valor referente às embalagens que usou... =(

é por essa e muitas outras que a frappé não trabalha mais com consignação. deixar peças em consignação só vale à pena se o lojista for realmente de confiança e suuuuper parceiro e se a marca não tiver nenhum outro canal para vender seus produtos.